terça-feira, 5 de julho de 2011

A Era da estupidez!

O lado escuro da comida

Frango. Água. Maisena modificada. Soda para cozimento. Sal. Glicose. Ácido cítrico. Caldo de galinha. Fosfato de sódio. Antiespumante dimetilpolissiloxano. Óleo hidrogenado de soja com antioxidante TBHQ. Isso agregado a mais 26 ingredientes é o que conhecemos pelo nome de nugget. A receita é produto de um sistema que faz de lasanha congelada a tomates mais ou menos do mesmo jeito que se fabricam canetas, ventiladores ou motos. É a agropecuária industrial. Ela começa nos combustíveis fósseis. Petróleo carvão ou, mais comum hoje, gás natural são a matéria-prima dos fertilizantes. E os fertilizantes são a matéria-prima de tudo que você come hoje, seja alface, seja dois hambúrgueres, alface, queijo e molho especial - no pão com gergelim.

Trecho da matéria publicada no site Viver Sustentável

Super recomendo a leitura na íntegra deste texto inteligente, sarcástico, provocante, sistêmico!

"O uso de agrotóxicos no Brasil é abusivo, exagerado e incontrolável"

Entrevista publicada na EcoAgência com Jóse Juliano de Carvalho Filho que possui graduação e doutorado em Economia pela Universidade de São Paulo, e pós-doutorado pela Ohio State University. Além de professor, integra a Associação Brasileira de Reforma Agrária – Abra.

Texto na íntegra aqui: http://www.ecoagencia.com.br/index.php?open=noticias&id=VZlSXRVVONVTVFzMXxmWhN2aKVVVB1TP

"Os agrotóxicos são usados sem nenhum controle pela sociedade brasileira. Seu uso está sob os interesses do que se chama de agronegócio. Olhando para o campo, veremos que há um mecanismo que torna o governo refém dos ruralistas. Neste mecanismo está embutida a própria questão macroeconômica, que tem um déficit crescente em contas correntes. Isso implica em pressão para se exportar mais commodities e o governo acaba ficando refém.

Basta olhar para o Congresso Nacional e ver que ali há um domínio muito amplo dessas forças, que eu considero as mais retrógradas do país. Tenho visto muito a destruição e a inviabilização da agricultura familiar. Não só por causa do agrotóxico, mas pelo conjunto do modelo do agronegócio.

Um caso emblemático no Rio Grande do Sul é a detecção do agrotóxico no leite materno. A mãe, ao amamentar, envenena o filho com o próprio leite. Isso é um absurdo, um descontrole total. Minha opinião sobre o uso de agrotóxicos no Brasil é que é abusivo, exagerado, incontrolável.

Ficou muito mais difícil para a agricultura familiar. Quando se fala em integração da agricultura familiar com a indústria, eu vejo mais uma relação de subordinação. O Brasil se sujeita a se entregar à economia mundial num lugar subalterno e sob o domínio de grandes empresas multinacionais. Elas fazem o que querem aqui, sem regulação e com domínio total. E não são punidas por seus crimes."

Águas urbanas...

ENTRE RIOS from Caio Ferraz on Vimeo.



controlando a natureza da água...

super recomendo este vídeo belo e esclarecedor!!!

terça-feira, 28 de junho de 2011

Eu e Água - Eu -> Água



Essa canção exprime muito do que tem sido estes dias, aqui dentro... pela emoção que causa e pela sua conexão metafórica.

4 Luas e a experimentação da Água.

Uma noite longa com sonhos, daqueles que você julga especial, porque de uma forma ou de outra há uma espécie de encantamento, um sentimento, um laço de lembrança do mundo invisível.

Algo mágico, seres mágicos que surgem do canto e enfeitiçam a mente e alimentam a intuição.

Sonhar com um boto pode despertar uma certa curiosidade em uma bióloga que nunca foi apegada aos cetaceos, apesar de sua imensa admiração e afeto por esses graciosos seres.

Mas sempre conheci biólogas super afinadas com eles!

Eu por minha vez, curtia tudo, especialmente a relação dos seres, o sistema!

sem esquecer que a beleza de cada relação, do micro ao macro, que é tão peculiar, mas também obedece uma cascata de eventos que se repetem nos seus diversos níveis fenomenológicos... e sendo caóticos ao mesmo tempo, um caos que impulsiona a criação ininterrupta de novas formas... pô cada coisa de cair o queixo, isso da natureza das coisas!!

E nisso... de natureza.. eu uso até para interpretar os sonhos..rs

Se sonho com gatos ou com um felino - outro ser qualquer... relaciono as habilidades do felino e como se comportam enfim, sua natureza... levo essa reflexão para o meu cotidiano, interior e externo a mim...

Isso pode ser com sapos, aranhas, pássaros, besouros, plantas, seja lá o que for, estudo sua natureza para interpretar, como arquétipos mesmo!

No mínimo construo relações interessantes.

Quando sonhei com o boto, tentei estudar um pouco a fundo, mas por conta da demanda de coisas a pensar... fiquei na camada superficial, porém o caos fez com que as relações se revelassem no tempo.

Dias depois e uma noite fria, ¨congelante¨ eu diria! - Amigos, fogueira e uma professora, uma mensageira da natureza, conduzindo o conhecimento nos meus fluxos hídricos; ela percorre os rios do meu interior, desobstruindo as barragens...

Ao passo que liberto o fluxo, energia circula!

E o que vem a seguir é pura magia!

Uma lua após o sonho fui convidada à fazer um trabalho de campo com alunos de uma escola particular em duas ilhas... ¨que chato, meu escritório é o mato...rs¨ - Cananéia e Ilha do Cardoso, me voi :)

Tenho buscado um reencontro comigo, dia a dia! Um reencontro com aquilo que acredito que pulsa aqui dentro e portanto, tenho encontrado!

Contudo a essência questionadora e minimamente rebelde tem sacudido as estruturas... algo da natureza! devem ser os lobos dentro de mim...

Com natureza e tudo, lá estava eu me envolvendo nas manifestações que estão pipocando por aí, na verdade algo que sei que tenho desejado à muito nas profundezas de meu ser e que por isso, é claro que o universo escultou; porque se você pede, olha.. vou te dizer uma coisa ... acontece, talvez não da maneira que você queira, mas acontece fih.

A construção de uma hidrelétrica num lugar que precisa ser cuidado como um precioso santuário ecológico de funções essenciais ao planeta, pô! - me diz se não é para ficar muito incomodado?

Fui lá gritar, tenho saído à gritar, existem várias maneiras de você tentar participar da construção do seu mundo, um deles, certamente é gritando!!! só que.. não deve parar por aí né! nem ficar gritando sem parar..rs

E daí que de incomodada a gritar - para agente de ação à construir... pode ser um pulo e, lá vou eu fazer bolinho com um povo que acredita que se juntar... pode dar um caldo!

Muito bem, porque tem é chão de estória...

Certo e com isso, lá vou estudar o que está no centro e nas bordas dessa história e conectar pessoas.. ações, porém com um detalhe - o tempo, a falta dele!

Tinha apenas uma Lua para isso, e era cheia com eclipse e tudo! Ah e tinham as ilhas e tinham os botos cinzas, como no sonho!

Primeiro dia em Cananéia e a história da cidade me fez ter a seguinte inspiração:

¨Cada vez que o homem tentou controlar a natureza de um rio, de todos os rios que conheço, de tudo que me lembro... o homem sempre se deu muito mau...¨

Deixou de ser um importantíssimo porto para o país graças ao desenvolvimentismo apressado que insiste reinar nessa nação - herança da nossa colonização..

Tentaram mudar a natureza do estuário e evidentemente, a água não obedeceu! ei, o/ isso de que a água tem sua natureza, é sério viu?!

O tal porto? ficou impraticável.. não tem quem navegue na areia, isso de assorear acontece também, viu?

Eu, no meio daquela história úmida, não perdi a deixa de debater com os jovens a relação do que seria Belo Monte, do que foi Itaipu e do que é Cananéia... São Francisco, Tietê, Tamanduateí, Anhagabaú, Pinheiros.. enfim, disso de controlar a natureza da água!

N´outro dia, atravessar o mar -> Ilha do Cardoso!!!

Uma ilha, um dia:

* Costão rochoso e suas peculiaridades e as marés e a Lua - Cheia!

* Restinga e a função das bordas, zonas de amortecimento, de como um ecossistema ajuda outro, suas importantes interações!

* Mata de encosta, nem preciso dizer que mata atlântica é um vislumbre de beleza e riqueza, seja de formas de vida, seja da rede intricada com os fatores abióticos, olha.. tem é coisa para aprender nisso!

* Manguezal! daí gente é terreno de criação, o berçário da vida. Lugar abençoado pela água!
- E aqui, vale comentar que mergulhar a cintura dentro do lamaçal de odor não tanto agradável.. foi algo que, caramba!! como vale a pena :-) todo mundo deveria brincar no manguezal um dia!!!

* Praia, é claro! afinal, o que os jovens mais queriam depois do atoleiro era praia e graças aos céus!! -> anil, sem nuvens e o re-querido sol, presente! ufa
ah... e praia gente.. ecossistema também, vamos estudar!

no final, olhaaa!! botos

Tentei entender mais uma vez, a relação daquilo tudo? Mas calma, ainda é alimento.

Pego o barco com um sorriso no rosto e no coração, lá na proa, olho o céu, busco a lua, afinal ainda tem o eclipse!

Somente a encontrei após ter desembarcado em Cananéia, quando um aluno apontou o dedo no sentido da Ilha Comprida e disse:

¨A Lua!!¨

e no instante que olhei o eclipse acabava por escondê-la de vez, foi em fração de segundos, como num click - da prata ao breu!

Deixei os jovens à tomar banho e corri para a beira do estuário, tinha um tempo livre para apreciar o fenômeno!

Encostada num cercado, noite escura, vento suave no rosto, cheiro de água (quem disse que água não tem cheiro?!) olhar focado no azul! Cadê a lua?

Por alguns curtos momentos, o brilho prateado em algumas nuvens desenhavam o céu com suas formas, e denunciava sua esperada aparição, mas era como um jogo de esconde... e de repente, escuridão total outra vez!

Um pouco mais de sombra e começam a cantar as águas, olhei em frente e percebi a agitação repentina de suas ondas! Foi o som quem revelou!

Ao passo que questionava o movimento, mirei o azul e eis que cintila no céu a prata!! - O brilho do sol refletido pela Lua.

Instantaneamente o aprendizado, Lua e Água, suas relações, marés, emoções, daí que de emoção.. arrepiou mesmo!

E participei de todo o desvendar-se da lua com um sentimento de relação profunda, da lua em mim, eu = água.

Outra noite inspirada de estudo de si e de estudo da natureza, afinal com tudo isso, estava eu conectada à net mais outra madrugada, trabalhando duro para fazer valer o meu grito!

E eis que chega a poesia, e eu? Deveria saber que nunca se deve desperdiçar uma poesia, afinal a mesma inspiração pode não mais aparecer outro dia...

Três dias de viagem, três horas de sono por dia, deve haver uma relação numerológica nisso tudo além da pura loucura...

No terceiro dia, conhecimento tradicional com quilombolas do vale do ribeira (local amado) e uma pérola que apesar de não ter a ver com água, sinto ser necessário imortalizar o momento!

O Sr. José, um dos líderes quilombolas da comunidade, me respondeu o seguinte, após questioná-lo se ele haveria, algum dia, escalado até o pico daquela montanha alta e íngreme?

- ¨Eu nunca fui não, fui naquela menor, que tá na frente. Mas tem umas pessoas aqui da comunidade que já foram, é meio longe né?!¨

- ¨Mas dizem os antigos da região que aquela montanha é um vulcão adormecido!¨

- ¨É sim! eles dizem que ele está adormecido porque aqui na região tem muitas formigas e tatus!¨

- ?? ann

- ¨É porque esses bichos furam a terra, sabe?¨

- kkkkkkkkk e a montanha respira?

- ¨Isso mesmo!¨

Meu??, fala sério né?! que história linda e engraçadíssima!!! eu me contorcia em gargalhadas e ele me acompanhava! foi delicioso!!!

Voltei para casa e mergulhei na agenda, nos artigos, matérias, vídeos, histórias - florestas, xingú, índios, energia, política...

A magia da água permaneceu e continua fluindo nestes meus dias, como sinais, como símbolos, como mensagens!

Engraçado que há uns dois meses atrás eu disse para o meu orientador no Instituto de Botânica, que ainda não tinha decidido qual seria o tema da minha tese de mestrado, mas que eu queria relacionar a biodiversidade vegetal como um elemento que proporcionasse resiliência nas águas dos sistemas agroflorestais... precisava criar um tema que coubesse à linha de pesquisa do instituto... é claro que o nível da pergunta ainda não era esse... ainda estava verde, precisando amadurecer!

E eu, a esperar a tal inspiração!

E com o minguar da Lua e Eu a minguar meu ciclo junto ao solstício de inverno... optei por casa, estudos de água. Estudos de dentro para fora e de fora para dentro, e nem imaginava que as águas ainda iriam me alimentar. Feriado prolongado, dedicação ao elemento e um domingo de chuva em pleno inverno, mais água!

E pela dedicação aos estudos, ganhei esta frase de presente a partir de um vídeo, que está no post anterior a esse: ¨Quando as árvores abandonam a terra a água também se vai embora.¨

Meio do dia e eu a atravessar a passarela aqui perto de casa, coisa que faço sempre... atravessar o rio, porém sempre mirando-o, afinal apesar dos pesares ele é um rio e portanto tem muito a me ensinar... e então, outro insight relativo à sua natureza.

¨A água é um elemento de memória, conduz e distribui, portanto a água é mensageira da memória - de toda a memória.¨

Daí que uma rede de aprendizados foi desenhada. Recordei de um aprendizado que tive com água há uns anos atrás, em um Igarapé de Rondônia, ao olhar atentamente para seu brilho e fluidez entre meus dedos, inspirei:


¨A água que corre agora pela superfície do meu corpo, que circula entre meus dedos.. já foi folha, já virou nuvem, já gestou um ser, foi outro ser, já esteve em mim e já foi minhoca, conheceu as profundezas da terra e voou no ar. Quanto tempo ela já vive na terra, compartilhando de tudo que nela vive? Caramba, eu posso saber o que é ser mineral e o que é ser nuvem e o que é ser folha, flor, fruta, semente, e conhecer da vida de qualquer outro ser vivo deste planeta ao passo que bebo água, porque sua natureza é a memória!! E todos podem experimentar o que é ser eu, na mesma gota d´água!"

¨A água cria em Nós, Unidade!¨

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E para expandir a teia, que de Lua e Água e Feminino há especial afinação... e nesse campo, ampliando o aprendizado junto com outras mulheres num circulo, fui à um espetáculo que fala de feminino, de lua, de água, de magia! -> alimentos, mais alimentos!

Hoje, muito embora a chuva tenha cessado lá fora, ela ainda está a cantar aqui dentro! E foi esta canção que inspirou essa imagem:

¨Eu e Água - Eu -> Água¨

E foi dessa imagem que se formou a resposta que eu procurava:

¨A importância da Biodiversidade Vegetal na resiliência hídrica dos sistemas Agroflorestais¨

o caminho acadêmico deve ser por aqui... estou aberta para aprender com os rios, os diversos tipos que existem na superfície, no subterrâneo, na atmosfera, dentro da gente! Por isso, esta resposta ainda pode mutar porque nada é estável, já diria a água!

e tenho que dizer que esse é uma das lentes que usei para experimentar a água em mim, porque houveram outras, mas daí.. já seria um livro... e isso é um post.. apesar do tamanho..

Se eu tivesse dado vazão à poesia, essa estória seria rima!

Quanto ao Xingú, ah.. esse ainda tem (hi)estória para contar e eu desejo, em cada gota de água dentro de mim, que seja de sua natureza preservada!

E dos meus gritos... pelos rios e pelas florestas... um estudo que alimenta minh`alma!

Isso não é magia?

Ahoo

E a canção, aí de cima... um canto tradicional de uma cultura africana que ensina suas crianças através dos cânticos tradicionais, diz mais ou menos assim:

¨Crianças, recolham o gado, guardem os animais que as grandes chuvas estão chegando. Precisamos proteger nossas riquezas.¨

sexta-feira, 24 de junho de 2011

"Quando as árvores abandonam a terra, a Água também se vai embora.."

Cada vez que o homem tentou controlar a natureza de um rio, de todos os rios que conheço, de tudo que me lembro... o homem sempre se deu muito mau...

O vídeo está dividido em 7 partes, todas obrigatórias à quem acredita que ainda tem força sobre teu destino e que acredita na força coletiva. Parafraseando um trecho do vídeo: "A única força capaz de transformar o mundo, capaz de transformar a sociedade, é a capacidade de unidade, de organização e mobilização das pessoas para enfrentar qualquer Poder."



É fundamental que você assista este vídeo e repasse aos seus, porque você tem tudo a ver com isso!

domingo, 13 de março de 2011

Meu nome pertence aos que me chamam!

¨Com todo o perdão da palavra, eu sou um mistério pra mim. E eu suponho que me entender não seja uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. E nem eu me entendo, pois sou infinitamente maior que eu mesma, eu não me alcanço. Mas eu fui obrigada a me respeitar, pelo fato de não me entender. Qual palavra me representa? Uma coisa eu sei: eu não sou o meu nome. Meu nome pertence aos que me chamam.¨ - Clarice Lispector

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Soberania alimentar e Biodiversidade!

Segundo o Botânico Valdely Kynupp "Somos xenófilos, o brasileiro não come a biodiversidade que tem", nestes vídeos ele discorre sobre muitas plantas nativas que ocorrem espontâneamente e que infelizmente pela ignorância da população são consideradas como mato. As plantas que são mostradas são altamente nutritivas e de fácil propagação, algumas ocorrem em vários estados brasileiros. Não somente no Rio Grande do Sul, mas em cada região podemos encontrar outras espécies que também são vistas como mato, porém são ótimos alimentos.
Nestes quatro vídeos, além da demonstração das plantas alimentícias com seus potenciais nutritivos, são dadas as dicas de preparo!!!

Vale a pena conferir!

Ah.. e para quem quiser conferir o trabalho acadêmico do Valdely é só baixar o pdf: http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/12870

E aproveitando o assunto, tem uma Cartilha de Hortalicas Nao-convencionais do Ministério da Agricultura para baixar!!! Bem legal, com receitas e tudo :-)








sábado, 22 de janeiro de 2011

A invasão das mulheres sem nome!

Estava dentro de um carro num estacionamento esperando meu amigo André quando ouvi os primeiros prenúncios do temporal, olhei para céu e confirmei apertada que a água despencaria de lá das plumas com força total.

Estava dentro do carro e assim permaneci quando a chuva torrencial executou sua dança de raios, trovões, ventanias, granizos e água, muita água, numa orquestra composta de sonoridades e imagens que vão além de suas intensidades.

Me permiti a ignição do possante quando me vi ameaçada por um holofote que balançava ao meu lado como se fosse bambú... pensei: ¨esse troço vai cair em cima de mim!¨ Então rodopiei as quatro rodas em direção do nada que conseguia ver... mas saí daquele local apavorante e parei novamente para esperar que ao menos aquele espetáculo passasse a encenar seus últimos números...

Na minha caixola, um áudio no modo repeat dizia: Putz... com certeza a casa encheu... afinal com bem menos água, 4 dias antes, eu já tive que me dedicar as tarefas do lar... mais conhecido pelas mulheres em geral como lerê!

Deu a hora de tentar sair daquele palco e procurar outras arenas...

Para chegar em casa, algo em torno de 1km de onde eu estava, tive rodar uns 5km para chegar ao destino... Eu e meu amigo André nos aventuramos entrando em tudo o que foi contramão para fugir de tantos alagamentos da querida Santa Terezinha; mais parecia um game, íamos passando de fase..rsrsrsrs

E o áudio na cabeça a cantarolar o prelúdio do que já era...

Depois de largar o quatro rodas na casa do amigo, segui aperreada rumo à minha casa, tentando ser otimista, como se isso me liberasse do pior...

Na rua atrás da minha, o rio fez juz a sua força e sabedoria, expandindo suas margens e tomando conta de tudo ao seu redor, e como quem anda em corda bamba, lá estava eu me equilibrando no murinho do rio, para não cair em nenhum dos lados dele, afinal tudo já era um.

Depois do desafio de não cair e ser levada downstream, olho e vejo a muvuca na esquina de casa, todos olhavam para o alto e não era para menos, a cobertura nova da vizinha tinha se desmembrado de sua casa e ganhou asas, parando somente nas correntes elétricas da eletropaulo... parecia mais uma instalação de arte – não para aqueles que perderam sua telhas, caibros e tals... of course!

Entrei na minha rua e o lerê era geral, vizinhas lavando suas casas era o sinal que faltava (porque eu não queria ver o fato, mesmo com tudo o que já havia presenciado até então...) de que a água mais uma vez adentrou meu ninho... não que a água seja mal vinda em casa... é que água de esgoto definitivamente não é algo legal de se ter em lugar algum, quanto mais na tua casa :(

Mas me dói profundamente chamar um rio de esgoto, mas é o que é, por enquanto....

Um dos meninos da rua, ao me ver aproximando de minha casa perguntou: ¨Quer ajuda?¨
E eu: ¨Para quê?¨
Ele: ¨Para tirar a água da sua casa¨.
E eu, numa manifestação mais que petulante e incrédula respondi: ¨Não precisa, estou acostumada, grata!¨ … mal sabia o que me esperava..kkkkkk

Abri a porta e mergulhei minha perna na piscina barrenta, nunca tinha vista nada igual!!
Água até o joelho em todos os cômodos... coisas a boiar e gatos ilhados, pobres coitados – assustadíssimos!

Antes de processar aquelas informações todas e movida pelo instinto - salvar bichos!, destinando-os ao segundo andar... depois, um olhar panorâmico no tamanho do estrago e um momento de choque onde possivelmente as sinapses entram em colapso...

Me dirigi a porta da rua abrindo-a para ver se conseguia enxergar algo além daquela água turva e de repente quem sabe, atinar a resposta, o feedback, buscar a saída daquilo... se bem que a vontade mesmooo, era de sair andando, passo a passo até, quem sabe, esquecer quem era eu... mas meu ascendente, bem representado por sua natureza terra, me puxou da água (literalmente) com o comando ¨Deixa pra chorar depois e bora que tem é coisa pra fazer!¨

Firma o pé mulher!!!rsrsrsrs

Nesse instante, algo de surpreendente sucedeu: Sete mulheres sem nome, invadiram minha casa, sem ao menos pedir licença ou questionar se precisava de ajuda! Simplesmente adentraram munidas de baldes, coragem, força, calças arregaçadas e passaram a tirar a água de minha casa incessantemente!

Lepstopirose, que nada – bora drenar essa aguaceira toda!

Eu, parei!

Devo ter ficado em choque por uns 30 segundos olhando aquela cena e refletindo rapidamente sobre ela. O que mais me martelava a cachola de marfim recheada de correntes elétricas e neurônios era: ¨Não sei o nome de ninguém!”

Fantástico!

Recobrei a memória de mim naquele espaço surreal da minha vida e cacei um balde para me juntar as mulheres sem nomes!

Após esvaziar o rio que era minha casa, a missão era lavar tudo e pude contar com a ajuda do amigo André e sua super animada e disposta prima – Patrícia, munida de seu filho fofo!

Desinfectar chãos e paredes para que no próximo dia pudesse iniciar a limpeza das coisas e verificar o prejuízo... para um biólogo, visualizar (imaginar) a proliferação das bactérias é o mesmo que ver um prato suculento de pasta ao pesto para um aficionado em massas faminto.... eu tinha mais do que certeza de que elas ali estavam!, e mais, crescendo indefinidamente!

O detalhe de tudo isso era que por conta do temporal, havia acabado a energia elétrica e a água... só para facilitar, é claro...

Dá para imaginar essa história toda acontecendo a luz de velas?, pois é... foi assim!

Ao deitar na minha cama, me permiti derrubar 3 lágrimas, mesmo com um rio turbulento dentro de mim e me ative em recordar as mulheres sem nomes, que me ensinaram a receber solidariedade sem pedir e que me mostraram o que significa essência na prática!

Olhar para elas me reanimou – recordar que há uma essência bela em cada ser, independente de qualquer coisa que seja!, gratidão poder ver!

Renovação da fé no ser humano, ufa!

Quanto ao rio, aquele dentro de mim, ainda veio a transbordar mais tarde, no outro dia, quando constei que todos meus mantimentos haviam se contaminado com a água, jogar toda aquela comida fora foi a tarefa mais difícil e dolorida de todas, aquilo tinha um quê de sagrado para mim e foi por isso que chorei, porém sem me esquecer das mulheres sem nomes!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Voa Canto!

Primeiro o olhar
de tal brilho
de recordar estrelas
cintilantes no cosmos

De volta à terra firme,
olho e vejo pés de Peter Pan
vestidos por algo articulado,
engraçado e curioso

Tal miragem me levou a voar
entre galhos e folhas
da floresta encantada,
moradora da massa cinzenta
guardada a sete chaves
pela caixa dura de marfim
no topo desta estrutura que eu sou

Pés no solo e olhos no ar
à mirar a beleza dos detalhes,
contemplando a seda...
Sua tecitura aquece
e protegem o sopro
de onde emanam o canto
Voa canto!

Co-criando o canto,
a dança das mãos
dedilhando cordas afinadas
e canções de alma
fazem brotar singelas flores
coloridas, belas e perfumadas

E pela luz do encanto,
me encontrei
foi um despertar de beleza
leveza e poesia,
recheado de acordes e sinfonias
com vislumbres de lábios, sopros e melodias

E de sua beleza
falar já não cabia,
se via
se ria
se brilha
cintila...

... e desse encanto nasceu a poesia!