sábado, 22 de janeiro de 2011

A invasão das mulheres sem nome!

Estava dentro de um carro num estacionamento esperando meu amigo André quando ouvi os primeiros prenúncios do temporal, olhei para céu e confirmei apertada que a água despencaria de lá das plumas com força total.

Estava dentro do carro e assim permaneci quando a chuva torrencial executou sua dança de raios, trovões, ventanias, granizos e água, muita água, numa orquestra composta de sonoridades e imagens que vão além de suas intensidades.

Me permiti a ignição do possante quando me vi ameaçada por um holofote que balançava ao meu lado como se fosse bambú... pensei: ¨esse troço vai cair em cima de mim!¨ Então rodopiei as quatro rodas em direção do nada que conseguia ver... mas saí daquele local apavorante e parei novamente para esperar que ao menos aquele espetáculo passasse a encenar seus últimos números...

Na minha caixola, um áudio no modo repeat dizia: Putz... com certeza a casa encheu... afinal com bem menos água, 4 dias antes, eu já tive que me dedicar as tarefas do lar... mais conhecido pelas mulheres em geral como lerê!

Deu a hora de tentar sair daquele palco e procurar outras arenas...

Para chegar em casa, algo em torno de 1km de onde eu estava, tive rodar uns 5km para chegar ao destino... Eu e meu amigo André nos aventuramos entrando em tudo o que foi contramão para fugir de tantos alagamentos da querida Santa Terezinha; mais parecia um game, íamos passando de fase..rsrsrsrs

E o áudio na cabeça a cantarolar o prelúdio do que já era...

Depois de largar o quatro rodas na casa do amigo, segui aperreada rumo à minha casa, tentando ser otimista, como se isso me liberasse do pior...

Na rua atrás da minha, o rio fez juz a sua força e sabedoria, expandindo suas margens e tomando conta de tudo ao seu redor, e como quem anda em corda bamba, lá estava eu me equilibrando no murinho do rio, para não cair em nenhum dos lados dele, afinal tudo já era um.

Depois do desafio de não cair e ser levada downstream, olho e vejo a muvuca na esquina de casa, todos olhavam para o alto e não era para menos, a cobertura nova da vizinha tinha se desmembrado de sua casa e ganhou asas, parando somente nas correntes elétricas da eletropaulo... parecia mais uma instalação de arte – não para aqueles que perderam sua telhas, caibros e tals... of course!

Entrei na minha rua e o lerê era geral, vizinhas lavando suas casas era o sinal que faltava (porque eu não queria ver o fato, mesmo com tudo o que já havia presenciado até então...) de que a água mais uma vez adentrou meu ninho... não que a água seja mal vinda em casa... é que água de esgoto definitivamente não é algo legal de se ter em lugar algum, quanto mais na tua casa :(

Mas me dói profundamente chamar um rio de esgoto, mas é o que é, por enquanto....

Um dos meninos da rua, ao me ver aproximando de minha casa perguntou: ¨Quer ajuda?¨
E eu: ¨Para quê?¨
Ele: ¨Para tirar a água da sua casa¨.
E eu, numa manifestação mais que petulante e incrédula respondi: ¨Não precisa, estou acostumada, grata!¨ … mal sabia o que me esperava..kkkkkk

Abri a porta e mergulhei minha perna na piscina barrenta, nunca tinha vista nada igual!!
Água até o joelho em todos os cômodos... coisas a boiar e gatos ilhados, pobres coitados – assustadíssimos!

Antes de processar aquelas informações todas e movida pelo instinto - salvar bichos!, destinando-os ao segundo andar... depois, um olhar panorâmico no tamanho do estrago e um momento de choque onde possivelmente as sinapses entram em colapso...

Me dirigi a porta da rua abrindo-a para ver se conseguia enxergar algo além daquela água turva e de repente quem sabe, atinar a resposta, o feedback, buscar a saída daquilo... se bem que a vontade mesmooo, era de sair andando, passo a passo até, quem sabe, esquecer quem era eu... mas meu ascendente, bem representado por sua natureza terra, me puxou da água (literalmente) com o comando ¨Deixa pra chorar depois e bora que tem é coisa pra fazer!¨

Firma o pé mulher!!!rsrsrsrs

Nesse instante, algo de surpreendente sucedeu: Sete mulheres sem nome, invadiram minha casa, sem ao menos pedir licença ou questionar se precisava de ajuda! Simplesmente adentraram munidas de baldes, coragem, força, calças arregaçadas e passaram a tirar a água de minha casa incessantemente!

Lepstopirose, que nada – bora drenar essa aguaceira toda!

Eu, parei!

Devo ter ficado em choque por uns 30 segundos olhando aquela cena e refletindo rapidamente sobre ela. O que mais me martelava a cachola de marfim recheada de correntes elétricas e neurônios era: ¨Não sei o nome de ninguém!”

Fantástico!

Recobrei a memória de mim naquele espaço surreal da minha vida e cacei um balde para me juntar as mulheres sem nomes!

Após esvaziar o rio que era minha casa, a missão era lavar tudo e pude contar com a ajuda do amigo André e sua super animada e disposta prima – Patrícia, munida de seu filho fofo!

Desinfectar chãos e paredes para que no próximo dia pudesse iniciar a limpeza das coisas e verificar o prejuízo... para um biólogo, visualizar (imaginar) a proliferação das bactérias é o mesmo que ver um prato suculento de pasta ao pesto para um aficionado em massas faminto.... eu tinha mais do que certeza de que elas ali estavam!, e mais, crescendo indefinidamente!

O detalhe de tudo isso era que por conta do temporal, havia acabado a energia elétrica e a água... só para facilitar, é claro...

Dá para imaginar essa história toda acontecendo a luz de velas?, pois é... foi assim!

Ao deitar na minha cama, me permiti derrubar 3 lágrimas, mesmo com um rio turbulento dentro de mim e me ative em recordar as mulheres sem nomes, que me ensinaram a receber solidariedade sem pedir e que me mostraram o que significa essência na prática!

Olhar para elas me reanimou – recordar que há uma essência bela em cada ser, independente de qualquer coisa que seja!, gratidão poder ver!

Renovação da fé no ser humano, ufa!

Quanto ao rio, aquele dentro de mim, ainda veio a transbordar mais tarde, no outro dia, quando constei que todos meus mantimentos haviam se contaminado com a água, jogar toda aquela comida fora foi a tarefa mais difícil e dolorida de todas, aquilo tinha um quê de sagrado para mim e foi por isso que chorei, porém sem me esquecer das mulheres sem nomes!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Voa Canto!

Primeiro o olhar
de tal brilho
de recordar estrelas
cintilantes no cosmos

De volta à terra firme,
olho e vejo pés de Peter Pan
vestidos por algo articulado,
engraçado e curioso

Tal miragem me levou a voar
entre galhos e folhas
da floresta encantada,
moradora da massa cinzenta
guardada a sete chaves
pela caixa dura de marfim
no topo desta estrutura que eu sou

Pés no solo e olhos no ar
à mirar a beleza dos detalhes,
contemplando a seda...
Sua tecitura aquece
e protegem o sopro
de onde emanam o canto
Voa canto!

Co-criando o canto,
a dança das mãos
dedilhando cordas afinadas
e canções de alma
fazem brotar singelas flores
coloridas, belas e perfumadas

E pela luz do encanto,
me encontrei
foi um despertar de beleza
leveza e poesia,
recheado de acordes e sinfonias
com vislumbres de lábios, sopros e melodias

E de sua beleza
falar já não cabia,
se via
se ria
se brilha
cintila...

... e desse encanto nasceu a poesia!